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Balé da Ralé: projeto na antiga Favela do Japão dá aulas de balé e dança para 120 crianças


 

Tádzio França
Repórter

O lugar é precário e pequeno, mas quando os movimentos graciosos da dança começam, esse mesmo espaço se enche de alegria, beleza e esperança no futuro. É o cotidiano do Balé da Ralé, um projeto que há dois anos envolve crianças da Comunidade Novo Horizonte,  antiga Favela do Japão, no bairro das Quintas. A iniciativa da bailarina e professora Saryne Fernandes nasceu da vontade de levar o balé clássico para pessoas cujo acesso à cultura é limitado. A ação vive essencialmente de doações e trabalho voluntário. Não é fácil manter o passo diante das dificuldades, mas elas seguem adiante. 


O Balé da Ralé é composto atualmente por 120 crianças da comunidade, além de 45 adultos que também se envolvem em suas atividades com outros tipos de dança, aulas e cursos. Saryne idealizou o projeto e tem a mesma origem de suas alunas. O sonho de ser bailarina só foi possível porque a mãe conseguiu uma bolsa de estudos pelo Sesc. Ela seguiu em frente e dançou pela Escola de Dança do TAM (EDTAM), Capitania das Artes, até se graduar em dança pela UFRN. 

Bailarina formada, Saryne pensou numa forma de compartilhar sua conquista pessoal com mais pessoas de seu lugar. Ela fez uma pesquisa junto à comunidade, para saber se haveria demanda por aulas de balé. E para sua surpresa, havia muita. Assim, em 2021, nascia o Balé da Ralé. O nome faz uma referência irônica à forma com que a sociedade vê as pessoas da periferia, mas ressignifica esse mesmo olhar, exaltando as origens e a força dos menos favorecidos. 

O projeto está completando dois anos, entre pequenos avanços e as  dificuldades de sempre. No começo, os ensaios do grupo eram a céu aberto, numa escadaria do bairro. Algum tempo depois, a avó de uma das alunas cedeu uma pequena casa  que serve de estúdio para as aulas. O local tem apenas um ambiente, onde as meninas se revezam nas aulas diárias. As barras onde elas se apóiam são canos de PVC fixados em duas paredes. Os uniformes foram obtidos através de doações. Nem todas têm sapatilhas. 
Apesar da precariedade, a seriedade com qual o Balé é conduzido fez com que muitos pais também se envolvessem no projeto. “Uma vitória nossa é fazer os pais dessas crianças entenderem que a educação salva”, afirma Saryne. 

Isso possibilitou o aumento das modalidades, que além do balé clássico incluem breakdance/hip hop, fit dance e capoeira. As aulas de dança são realizadas com as turmas divididas por horários. A faixa etária dos pequenos vai entre os três e os 13 anos de idade.

Para além da dança, o projeto já se desdobrou em outras ações, que chegam às pessoas adultas da comunidade e incentivam o empreendedorismo e a profissionalização, como os cursos de design de sobrancelha e automaquiagem. “Uma das mães fez o nosso curso de maquiagem e se descobriu. Quis se aprofundar, descolou trabalhos, e aumentou sua renda com isso”, conta Saryne, com orgulho. 

Há ainda aulas de inglês e alfabetização básica para adultos e crianças, além de palestras sobre saúde da mulher, uma vez por mês. Tudo isso está condicionado à chegada de voluntários e à demanda das famílias. “Nós fazemos pesquisas junto às mulheres da comunidade, através de um questionário que elas respondem anonimamente”, explica. 

Saryne afirma que o maior custo do projeto ainda é com a alimentação. São cerca de 600 lanches por semana. Ela conta que através de doações, conseguiu entregar mais de mil cestas básicas no ano passado. “Já tivemos alunas que passaram mal durante as aulas. Fui procurar o motivo, e a verdade é que elas não haviam se alimentado no dia anterior. São histórias difíceis até de contar, de tão distantes da realidade de quem tem todas as refeições diárias”, diz. 

As doações são fundamentais para o projeto, mas nem sempre acontecem na quantidade desejada. Por isso, Saryne também está recorrendo a outras vias, como as mentorias do Sebrae, que oferecem ideias para que o Balé obtenha mais recursos, e também indicam contatos com empresas da cidade que possam se interessar em apoiar ou fazer parcerias. 

Ao longo desses dois anos, já foram entregues mais de 2.500 cestas básicas, além de gás de cozinha, vale alimentação, kits de higiene pessoal, brinquedos, material escolar, e roupas. Atualmente, o Balé conta com uma lista de espera de 270 crianças que desejam fazer parte da turma.

 “Infelizmente, elas precisam esperar, pois não temos a estrutura ideal para atender a todas. Por outro lado, é incrível saber que há tanto interesse em participar, É o nosso maior incentivo”, diz a professora. 

Novo espetáculo

A passos de bailarina, o Balé da Ralé já está compondo seu próprio repertório. Em julho do ano passado o projeto montou seu primeiro espetáculo, “Eu Sou Favela”, que conseguiu o feito de ser apresentado no histórico palco do Teatro Alberto Maranhão. A peça de dança contava a história da antiga Favela do Japão através da dança, representando as dores e as alegrias de seus moradores. O espetáculo projetou o Balé para toda Natal, e foi o incentivo para que outra apresentação surgisse. 
tribuna  do  norte

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